
Salvador – Nos bastidores da política baiana, uma articulação estratégica está em curso com o objetivo de reconquistar a prefeitura de Ilhéus para a base aliada do Governo do Estado. Após a derrota em 2020, quando Valderico Júnior (União Brasil) venceu a disputa e rompeu uma longa hegemonia do grupo progressista na cidade, o núcleo da esquerda baiana trabalha para unir as principais lideranças locais ligadas ao campo democrático-popular em torno de uma única candidatura para 2026.

As conversas envolvem diretamente o ex-prefeito Mário Alexandre (Marão), sua esposa e deputada estadual Soane Galvão (PSB), e a ex-secretária estadual de Saúde e ex-candidata à prefeitura Adélia Pinheiro (PT). O objetivo da costura é evitar a fragmentação que marcou a última eleição, quando a divisão entre os candidatos da base governista — Adélia e Bento Lima, este apoiado por Marão — facilitou a vitória da oposição.

De acordo com fontes próximas à cúpula do governo, os números são reveladores: somados, os votos de Adélia e Bento superam com larga vantagem os votos conquistados por Valderico, demonstrando que a maioria do eleitorado de Ilhéus ainda se identifica com projetos de centro-esquerda. A leitura no Palácio de Ondina é clara: se unidos, os grupos de Adélia e Marão podem garantir o retorno da cidade ao eixo da esquerda, o que fortaleceria a base estadual no sul do estado, região estratégica do ponto de vista político e econômico.
Valderico isolado e com desgaste político

Enquanto isso, o atual prefeito Valderico Júnior enfrenta desgaste crescente. Segundo relatos de bastidores, o gestor tem perdido apoio de lideranças políticas locais por não cumprir acordos firmados durante a campanha. Ainda de acordo com aliados frustrados, Valderico estaria governando de forma centralizada, priorizando cargos para amigos próximos, figuras ligadas ao futebol amador e antigos colegas pessoais — como ex-personal trainers — em detrimento de quadros com experiência técnica ou compromissos políticos firmados.
Além disso, cresce a insatisfação com a distribuição de cargos na atual gestão. Diversos secretários municipais acumulam influência desproporcional na máquina pública, mantendo esposas, filhas e parentes próximos em diferentes setores da prefeitura. A prática, que se assemelha ao chamado nepotismo cruzado, vem sendo criticada por servidores e lideranças locais, que apontam a falta de meritocracia e o uso da estrutura pública como moeda de troca política e pessoal — o que pode agravar ainda mais o isolamento do prefeito dentro e fora do seu grupo original.
Câmara de Vereadores também demonstra insatisfação

Paralelamente, o relacionamento institucional entre o Executivo e a Câmara Municipal de Ilhéus também tem se deteriorado. Muitos vereadores reclamam da falta de diálogo e do distanciamento do prefeito com o Legislativo. Parlamentares da base e até mesmo independentes têm questionado o peso político dado a amigos pessoais do prefeito dentro do governo. Um dos exemplos mais citados é o chefe de gabinete Caio, apontado como detentor de mais influência e cargos na estrutura municipal do que um vereador ou até mesmo um partido aliado. Para muitos, isso escancara a imaturidade política de Valderico, que demonstra não saber articular nem construir pontes com aqueles que garantiram a governabilidade no início do seu mandato. A ausência de escuta e de gestão política tem acendido um alerta no Legislativo, que pode se tornar um dos pilares da oposição nas próximas eleições.
Risco de derrota histórica

Diante desse cenário de desgaste crescente, Valderico Júnior corre o risco de entrar para a história como o primeiro prefeito de Ilhéus a não conseguir a reeleição, o que seria um marco negativo para sua trajetória política. O contexto ganha ainda mais peso simbólico quando se lembra que seu pai, Valderico Reis, foi o único prefeito impichado da história do município. Caso não consiga reverter a insatisfação popular e política, Valderico pode repetir — com outros contornos — o fim precoce do ciclo político familiar no comando de Ilhéus.
Chapa única será decidida por pesquisas

A definição da cabeça de chapa ainda está em aberto. Segundo fontes envolvidas nas negociações, tanto Marão quanto Adélia têm força eleitoral para disputar, e a decisão sobre quem será o candidato à prefeitura dependerá das próximas pesquisas internas de intenção de voto. O que já está acertado é que os dois estarão juntos na mesma chapa, com o apoio direto do governador Jerônimo Rodrigues.
Em troca desse acordo, Marão teria recuado da intenção de disputar uma vaga na Assembleia Legislativa da Bahia, optando por fortalecer a reeleição de sua esposa, Soane Galvão, como deputada estadual. O gesto reforça a aliança com o governo estadual e sinaliza que o grupo está disposto a sacrificar projetos individuais em prol de um objetivo maior: reconquistar Ilhéus e consolidar o projeto político da base progressista na região.
Com um eleitorado tradicionalmente inclinado à centro-esquerda e insatisfeito com a atual gestão, a cidade de Ilhéus pode, em 2026, ser o palco de uma virada significativa no tabuleiro político baiano — uma vitória que seria comemorada não apenas por Marão e Adélia, mas por toda a estrutura do Governo do Estado.