
Brasília, 10 de junho de 2025 — O interrogatório do ex-presidente Jair Bolsonaro e de generais ligados ao seu governo, realizado nesta segunda-feira, expôs mais do que as fragilidades da acusação sobre um suposto “núcleo do golpe” investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A audiência foi marcada por uma mudança inesperada no comportamento do ministro Alexandre de Moraes, que surpreendeu a todos com uma postura mais leve, bem-humorada e visivelmente menos confrontadora.
Longe do estilo duro e assertivo que o consagrou nos últimos anos, Moraes conduziu a sessão com cordialidade, abriu sorrisos, fez comentários descontraídos e evitou as alfinetadas que antes eram frequentes em depoimentos de figuras ligadas ao bolsonarismo. Para muitos presentes, a impressão foi clara: algo mudou.

Segundo participantes da audiência, o ministro demonstrou, pela primeira vez em muito tempo, uma tentativa evidente de desfazer a imagem de “xerife da democracia” — e até mesmo de “ditador de toga”, como foi apelidado por opositores. Não houve embates. A condução foi técnica, quase amena, e a palavra “recuo” começou a ecoar nos corredores do STF.
Nos bastidores da política e da diplomacia, há quem acredite que esse novo tom tenha relação direta com pressões externas. Nos últimos meses, cresceram os rumores de que órgãos internacionais de direitos civis e setores do governo dos Estados Unidos estariam observando com preocupação o avanço do Judiciário brasileiro sobre competências de outros Poderes. Há indícios de que sanções pessoais e diplomáticas podem estar sendo discutidas, incluindo restrições financeiras e de mobilidade para autoridades brasileiras envolvidas em abusos de poder.

O interrogatório em si apenas confirmou o que muitos já vinham dizendo: não há, até o momento, provas sólidas de qualquer tentativa concreta de golpe. As investigações continuam girando em torno de trocas de mensagens no WhatsApp, conversas tensas após a derrota eleitoral de 2022 e nenhuma ação efetiva para alterar o resultado das eleições. Nenhum plano foi formalizado, nenhum documento assinado, nenhuma medida foi executada.
Nesse cenário, a nova postura de Moraes chamou mais atenção do que o conteúdo dos depoimentos. Para observadores atentos, o ministro parece estar ajustando sua imagem em resposta a um novo momento político — menos centrado no confronto interno e mais atento aos sinais vindos de fora do país.
O futuro dirá se essa mudança é apenas momentânea ou o início de um reposicionamento estratégico dentro do Supremo. Mas o recado foi claro: pela primeira vez em muito tempo, Moraes baixou a guarda.