
Salvador — O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), enfrenta uma tempestade política que coloca em xeque sua tentativa de reeleição em 2026. Articulações nos bastidores indicam que o nome do petista já não é consenso nem mesmo entre aliados tradicionais. Integrantes de federações partidárias e lideranças regionais avaliam que sua permanência como candidato à reeleição pode inviabilizar o projeto de continuidade do grupo político que governa o estado há quase duas décadas.

A principal crítica que se avoluma entre aliados e opositores é a ineficiência de sua gestão. Para muitos observadores, Jerônimo protagoniza um dos governos mais frágeis da história recente da Bahia. A violência explodiu sob sua liderança, com números que colocam o estado entre os mais perigosos do Brasil. Assassinatos, roubos e confrontos entre facções passaram a fazer parte do cotidiano em muitas cidades baianas, afetando diretamente a sensação de segurança da população e afastando turistas — um dos motores econômicos do estado.
Na saúde, a situação é igualmente grave. Hospitais regionais sucateados, filas intermináveis para cirurgias básicas e falta de insumos essenciais são reflexo do desmonte silencioso que avança por conta da escassez de recursos e da má alocação orçamentária. Em algumas regiões, médicos denunciam falta até de medicamentos básicos. Enquanto isso, programas estaduais de atenção básica à saúde perderam força ou foram encerrados.

Embora o governo tente vender avanços na educação com a construção de novas escolas, professores e especialistas apontam que a estrutura física não foi acompanhada por um projeto pedagógico robusto. O quadro docente continua defasado e desvalorizado. Salários estagnados, condições precárias de trabalho e ausência de formação continuada mantêm o sistema educacional aquém das necessidades de uma juventude cada vez mais excluída.
A crise se estende ainda ao setor produtivo. Empresários relatam que a insegurança jurídica, aliada à ausência de uma política de incentivo à economia, fez com que diversas empresas deixassem o estado. A Bahia já sente os efeitos do desemprego e da retração industrial, especialmente no interior. A ausência de uma legislação moderna e a dificuldade de diálogo com o setor privado aprofundam o desânimo de quem quer investir ou empreender no estado.
O reflexo mais drástico dessa crise é o êxodo populacional. Cidades do Nordeste baiano, como Euclides da Cunha, Senhor do Bonfim e Monte Santo, vivem um esvaziamento acelerado. Famílias inteiras deixam suas terras em busca de oportunidades em estados vizinhos ou no Sudeste do país, sinalizando o fracasso de políticas públicas capazes de fixar o homem no campo e garantir qualidade de vida nas regiões mais pobres.

Para piorar o cenário, a altíssima rejeição do presidente Lula, com quem Jerônimo mantém forte alinhamento político, pode funcionar como um peso ainda maior em sua tentativa de reeleição. A impopularidade crescente do governo federal em setores amplos da sociedade baiana pode contaminar diretamente o desempenho do governador nas urnas. Em um momento de forte polarização política, o desgaste de Lula pode afastar até mesmo eleitores que tradicionalmente votaram no PT, ampliando o isolamento de Jerônimo.
Nos bastidores, cresce a pressão por uma alternativa dentro da base governista. Parte dos partidos que integram a federação que elegeu Jerônimo já sinaliza que não pretende repetir a aliança se o atual governador insistir na reeleição. A avaliação é de que sua imagem está desgastada, e que manter seu nome como cabeça de chapa representaria um risco eleitoral inaceitável.
Diante desse cenário, Jerônimo Rodrigues se vê cada vez mais isolado. Sua permanência no cargo até o fim do mandato não está ameaçada, mas sua continuidade no projeto de poder do PT na Bahia parece cada vez mais distante. Resta saber se o governador terá força política e apoio suficiente para reverter o desgaste — ou se será convencido a abrir espaço para uma nova liderança antes que seja tarde demais para o grupo que comanda o estado há mais de 16 anos.