
Por @thiagomartinsbahia
O Brasil assiste, mais uma vez, à prisão de um ex-integrante do governo Bolsonaro. Gilson Machado, ex-ministro do Turismo, foi detido pela Polícia Federal por, supostamente, ter tentado ajudar um amigo a tirar um passaporte — isso mesmo: um passaporte. Nenhum centavo desviado, nenhum esquema de corrupção, nenhum contrato superfaturado, nenhuma mala de dinheiro. Apenas a tentativa de auxiliar Mauro Cid, outro investigado, a obter documentação junto ao consulado português.
Enquanto isso, o governo Lula segue cercado por figuras sob investigação ou já afastadas por escândalos reais, com indícios fortes de corrupção. Casos como o do ex-ministro Juscelino Filho, envolvido em denúncias de desvio de emendas do orçamento secreto; o escândalo envolvendo o ministro das Comunicações, que teve que devolver verba pública utilizada para fins privados; ou ainda o afastamento do presidente da Caixa Econômica por denúncias de assédio moral e sexual. Nenhum deles dormiu sequer uma noite na cadeia. Nenhuma condução coercitiva, nenhuma prisão preventiva espetaculosa. Todos soltos, protegidos pelo mesmo sistema que tem agido com mão de ferro seletiva contra adversários ideológicos.

Essa diferença de tratamento acende um alerta vermelho: estamos diante de uma justiça equitativa ou de um tribunal político?
A sensação é de que o Brasil vive hoje não só uma crise econômica e social profunda — com desemprego alto, impostos sufocantes e insegurança jurídica que afasta investidores — mas também um desmanche silencioso das garantias democráticas. As instituições que deveriam assegurar o equilíbrio entre os poderes parecem pender cada vez mais para um lado do tabuleiro político.
A censura, outrora repudiada pela Constituição de 1988, começa a tomar novas formas. Seja pela perseguição de vozes conservadoras nas redes sociais, seja pela intimidação da imprensa independente, o país dá sinais claros de que caminha para um modelo onde o pensamento único passa a ser regra, e o dissenso, motivo de investigação.

E como se não bastasse, temos ministros do Supremo Tribunal Federal — a mais alta corte do país — fazendo declarações escandalosas. Gilmar Mendes, por exemplo, declarou publicamente ser “fã” do regime do ditador chinês Xi Jinping. O mesmo regime que prende jornalistas, censura a internet, extermina liberdades básicas e promove o terror estatal contra minorias. Como aceitar que um ministro do STF possa admirar abertamente um modelo ditatorial, e ainda assim seja tratado com normalidade pela imprensa e pela classe política?
Que país é esse?
O Brasil vive um momento sombrio. Não apenas por sua economia fragilizada ou por sua insegurança pública crônica, mas porque o equilíbrio entre os poderes e a confiança no sistema judicial está sendo corroído. A balança da justiça parece ter deixado de lado a venda que simbolizava sua imparcialidade, enxergando tudo — mas apenas com um olho. E isso, historicamente, nunca termina bem.
Se a justiça continuar sendo usada como instrumento político, o Brasil deixará de ser um Estado de Direito para se tornar um Estado de exceção. E nesse cenário, todos perdem — até mesmo aqueles que hoje acham que estão vencendo.
